segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Heroína (diacetilmorfina)

O mais potente de anestésico.

   A heroína ou diacetilmorfina, é uma droga opioide natural ou sintética, produzida e derivada da morfina que por sua vez, é extraída da cápsula (fruto) de algumas espécies da planta papoula (Papaver Somniferum).
   Apesar de ser obtida a partir da morfina, é muito mais potente do que ela. Foi sintetizada em 1874 pelo químico inglês Charles Romley Wright e colocada no mercado pela empresa farmacêutica Bayer em 1897. Devido a sua grande capacidade como estimulante e analgésico, foi registrada com o nome comercial ‘heroína’ (de “heroisch“, heroico em alemão), a pedido do químico Felix Hoffman que trabalhava na Bayer.
   Foi amplamente utilizada como fármaco de 1898 até 1910 como substituto da morfina para usos como analgésico, antitussígeno e hipnótico. A quantidade de viciados em morfina na época era bastante alta, já que era o principal anestésico utilizado em feridos e mutilados de guerras. Ao final da 1a. Guerra Mundial em 1918, seus direitos comerciais foram cedidos pela Alemanha aos Aliados como parte da reparação dos custos do conflito causado pelos alemães.
   Na época, acreditava-se que a heroína poderia ser um substituto da morfina sem causar dependência física ou psicológica. Não demorou para que os médicos descobrissem que na verdade a heroína era muito mais viciante que a morfina, anulando a vantagem de substituí-la.
   Na sua forma pura, é encontrada como um pó branco facilmente solúvel em água. Por isso é consumida inalada ou injetada através de seringas. Quando injetada, seus efeitos no organismo duram de duas a quatro horas. A maior parte da heroína consumida é excretada pela urina em 24 horas na forma de morfina.
   A heroína é uma substância depressora do Sistema Nervoso Central que altera as sensações de prazer e dor. Usuários relatam uma sensação de intenso prazer, bem-estar e euforia e diminuição de sensações como dor, fome e desejo sexual. A respiração, a pressão arterial e a freqüência cardíaca são aumentadas à medida que se aumenta a dose ingerida e após a euforia ocorre a sedação, fazendo com que seu usuário se sinta aquecido, pesado e sonolento. Seu uso em conjunto com álcool, barbitúricos e outros depressores do SNC aumenta em muito o risco de overdose e morte. 
   É uma das drogas mais viciantes que existem e, em quase todos os rankings de drogas mais nocivas, é a que aparece em primeiro lugar.
   A administração de heroína provoca uma overdose de endorfinas no organismo – nossos analgésicos naturais – e limita a capacidade do corpo de continuar a produzi-las naturalmente, principalmente a acetilcolina.
   Por isso a supressão repentina de doses de heroína em dependentes, causa primeiramente desconforto, enjoos, bocejos (tão intensos que podem até provocar deslocamento do queixo), suores frios, escorrimento nasal e principalmente, dores intensas.
   E pior, ao passar das horas, os sintomas aumentam de intensidade provocando vômitos, fortes tremores musculares e desarranjo intestinal.
   A abstinência na gíria dos viciados, faz com que se sintam em estado de “cold turkey” (peru gelado), uma alusão ao ato de resfriar uma ave antes de ser abatida, o que faz com que fique tremendo de frio sem parar. 
   O pico de severidade da crise de abstinência é atingido entre 36 e 72 horas depois da última dose administrada. Os viciados quando em abstinência não conseguem encontrar nenhuma posição confortável, e junto com a extrema ansiedade, vem o desejo intenso de tomar uma nova dose e encerrar esse martírio. Entre 72 e 96 horas depois, os sintomas começam a diminuir. As sensações físicas mais críticas cessam ao redor de uma semana. Mas é comum o adicto apresentar conseqüências psicológicas como insônia, depressão e desânimo por muito mais tempo, além é claro da ‘fissura’ em voltar a utilizar a droga.
   Os sintomas continuarão a reaparecer de tempos em tempos, e algumas sequelas como alterações na pressão arterial, persistirão por anos.
   Apenas três em cada dez usuários conseguem largar definitivamente essa droga após o vício ser estabelecido.
   Relatos de dependentes de heroína afirmam que nenhuma outra sensação se compara ao efeito obtido com ela, sendo comum descrever o pico de efeito da droga como o equivalente a sensação de “mil orgasmos de uma vez”.
   É exatamente a intensidade de prazer obtida no auge do efeito da droga, que faz com que os usuários queiram experimentar essa sensação novamente. Para piorar, como a produção da acetilcolina do organismo é deficiente com o uso de heroína, todas as outras atividades prazerosas perdem seu sabor. O que talvez ajude a explicar o porquê da heroína ser a substância com o maior poder de adicção (causar dependência), do mundo.
   Em doses normais a heroína já causa diminuição respiratória, de pressão sanguínea e da temperatura corporal além de flacidez muscular e estreitamento da pupila.  Em altas doses esses sintomas são agravados, levando a convulsões, coma e dependendo da quantidade, até a morte por insuficiência respiratória. Também é comum usuários morrerem asfixiados pelo excessivo relaxamento muscular na língua, que é ‘engolida’ e impede a passagem de ar.
   Soma-se a isso a ‘fissura’ dos usuários em administrar rapidamente a droga, o que faz com que não se preocupe com a assepsia do equipamento utilizado. É comum vários usuários repartirem a seringa entre si – querendo obter seus efeitos logo – ou diluírem a droga em qualquer tipo de água, até de vasos sanitários públicos. Por isso os usuários de heroína são os consumidores de drogas que mais apresentam doenças transmissíveis pelo sangue como hepatite, AIDS, tétano e outras. A heroína facilmente  ultrapassa a barreira hemato-encefálica e a placenta em mulheres grávidas, fazendo com que os filhos de usuárias apresentem altos índices de  mal formações, além de também apresentarem dependência.
   Pela alta periculosidade do consumo dessa droga, a heroína é proibida em quase todos os países do mundo desde o início do século XX. Mas ainda existem alguns poucos países que a utilizam como analgésico de uso hospitalar.
  Os Estados Unidos experimentaram um grande surto de uso de heroína durante a guerra do Vietnã, já que esse último país se encontra geograficamente muito próximo ao ‘triangulo dourado’ da produção de ópio: Laos, Myanmar (antiga  Birmânia), e Tailândia. Quando os combatentes norte-americanos voltaram da guerra, disseminaram o uso da droga.
   Também era comum soldados utilizarem a heroína misturada a cocaína ou metanfetaminas em uma combinação conhecida como “speedball”. Nem precisa dizer a quão perigosa é esta associação de duas das drogas mais fortes ao organismo. A cocaína age como um estimulante, mas seus efeitos passam mais rapidamente que os da heroína,  que desacelera o coração. Uma overdose de “speedball” mata por provocar uma intensa depressão respiratória,  quando os efeitos  estimulantes cessam e todos os efeitos da heroína são sentidos repentinamente.
   O Afeganistão  responde por mais de 80% de toda heroína produzida no mundo.  Um quilo de ópio rende cerca de US$ 80 (dados de 2012) para os camponeses que produzem essa planta por lá. Essa quantia dá para extrair 100 gramas de heroína, que nas ruas dos Estados Unidos valem cerca de 17 mil dólares  (US$ 170 o grama). Além do 'triangulo dourado', a papoula também passou a ser cultivada na Colômbia e no México visando atender ao mercado americano.
   Para tentar diminuir os danos, médicos da Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica, Suíça e Alemanha tem promovido uma política pública de receitar medicamentos à base de heroína para viciados. Em janeiro de 1997, depois de cinco usuários sofrerem overdoses mortais num único dia em Bremen (Alemanha), os próprios departamentos de polícia de dez cidades alemãs pleitearam aos poderes públicos a distribuição da droga por médicos em ambiente controlado, na tentativa de reinserir os viciados, controlar a composição dos produtos e diminuir o mercado dos traficantes.

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